(cusvirtual) Bolsonaro em guerra contra as ciências humanas

Prezados colegas,

Compartilho uma pequena contribuição publicada no Mídia Ninja (abaixo na íntegra) em resposta ao atual Ministro da "Educação". Porque Bolsonaro nem mesmo teria chegado ao poder sem as nossas humanas ciências e sem traficar suas criações.

Abraços,
Maycon.

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Bolsonaro e a guerra declarada às ciências humanas

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Apr 28

Por Maycon Lopes, doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, bolsista CNPq.

Bolsonaro não cansa de se trair. Qualquer um que já tenha prestado mínima atenção aos inflamados pronunciamentos que ele e seus comparsas proferem, alguma vez escutou vocábulos como ideologia, desconstrução e derivados. O que ele não sabe, ou pelo menos finge não saber, é que termos como estes (ideologia, por exemplo, que aparece na forma de ideologia de gênero na falaciosa versão de uma das muitas bases obscurantistas desse governo — nomeadamente, os fundamentalistas religiosos) foram colocados no mundo principalmente pelas disciplinas contra as quais agora ele e seus correligionários se voltam: a filosofia e a sociologia.

É verdade que não se tratam de termos neutros ou ingênuos, o que não significa, como as evidências apontam, que se encontrem livres de manipulação e aplicação de modo divergente do arcabouço que lhes deu vida. Na qualidade de conceitos, funcionam como ferramentas: respondem e são acionados para resolver problemas, questões. Se o pensamento não se alheia mas compõe o tecido da experiência, se ele caminha com as coisas e a estas se mistura, é capaz de mobilizar ou incitar um fazer, podendo ser convertido em instrumento num determinado campo de prática. É ele mesmo prático: adiciona e modifica a realidade. E neste ponto não difere muito das invenções da química, por exemplo.

Acontece que Bolsonaro se trai na medida em que não reconhece que a filosofia e a sociologia foram úteis em sua escalada ao poder.

De modo equivocado ou não, fidedigno ou impostor, recursos teóricos que ganharam o mundo lhes foram ironicamente oportunos, vieram a seu auxílio quando mais precisava, quando a reorientação da vida social surgiu como propósito. Versões de sociologias e filosofias leigas tornaram-se, para o bem e para o mal, objetos de disputa.

Por um lado, a sociologia e a filosofia, identificada pelo atual governo com as alas progressistas da sociedade (mesmo que sejam muito mais plurais do que nos querem convencer), venceram; seus conceitos já são parte, operadores do mundo. Se a relevância de uma ciência e um campo de saber se manifesta quando invenções e descobertas extrapolam o domínio do laboratório e da universidade e se tornam, por assim dizer, usuais, se é quando seus estudos resultam em disponibilizar artefatos para não especialistas, é fácil concluirmos que sociólogos e filósofos prestam um serviço deveras significativo. Caso contrário, isto é, se o labor desses estudiosos não produzisse efeitos e consequências, o governo a estes seria indiferente.

Por outro lado, essas áreas de conhecimento fracassaram. Mas é o risco assumido quando não nos encerramos, felizmente, à torre de marfim, quando cumprimos o papel de responder a toda uma sociedade que demanda por nossos contributos. Toda troca entre grupos diferentes conforma uma ecologia complexa. A título hipotético sobre o que seria um fruto mal fadado, imaginemos o bem intencionado inventor de avião que desejava aproximar pessoas ver "sua" aeronave virar dispositivo de guerra e destruição. Os cientistas assumem o risco do aparato técnico mais sofisticado prestar-se a uma engrenagem rudimentar, para não dizer abominável.

A cada vez, porém, que observamos nossa produção, sobre cujo uso de algum modo perdemos o controle quando esta goteja no senso comum, ser empregada de modo inapropriado, ou mesmo ser rebaixada, sentimo-nos convocados a reconsiderá-la. Essa obrigação sobre o que criamos pode atender ao nome de… Responsabilidade. Se toda apropriação é uma prática moral, que pode resultar criativa ou ignóbil, é importante que sigamos vigilantes, sobretudo com aqueles que consomem a obra de nossos mais obstinados esforços para em seguida, além de corrompê-la, nos hostilizar. 
 
A Bolsonaro, cuja fórmula de patriotismo, a tirar por seu chanceler, é devotar-se aos Estados Unidos da América, sugiro um passeio pela história da sociologia e sua difusão pelo mundo, que data principalmente do após Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, o interesse pela sociologia por parte dos EUA e seu projeto de poder, cujo governo e grandes empresas (como a Ford) encarregou-se de financiar, foi imprescindível no novo fôlego de institucionalização tomado por esta ciência, ali e alhures. Ora, sociólogos contam com sensibilidade cientificamente orientada e habilidade técnica para compreender os agrupamentos humanos, seus problemas e transformações. E os EUA ou qualquer país moderno que deseje intervir de modo eficaz no futuro de uma dada realidade (em geral é de traçado e implementação de políticas públicas que se ocupam governos) já entenderam que é incontornável o estabelecimento de diálogo com estes profissionais, cuja expertise, por sua vez, é formada não no twitter, mas no ambiente acadêmico.

Um país à sorte dos humores anti-intelectualistas pergunta-se hoje quem tem medo das ciências humanas.

Quem receia sua autoridade intelectual na produção de verdades? Porque inquirir a realidade social a partir do cultivo de um senso de responsabilidade, característico a tais pensadores, pode representar uma ameaça às metas deste governo? Em meio a essa enevoada, o fato que se torna patente, inconteste e indubitável é que inteligência é artigo em escassez entre Bolsonaro e sua turma.


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(cusvirtual) Fwd: Coloquio Diversidad Sexual UNR - 2º Circular: PRÓRROGA



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De: Javier Gasparri <jegasparri@gmail.com>
Date: sex, 26 de abr de 2019 às 12:26
Subject: Coloquio Diversidad Sexual UNR - 2º Circular: PRÓRROGA
To:






Se informa que se ha prorrogado la recepción de resúmenes hasta el próximo 1 de mayo.
Se adjunta segunda circular y ficha de inscripción.
Se agradece difusión.

Libre de virus. www.avast.com


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Leandro Colling
Professor associado I do IHAC, professor permanente do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA - www.poscultura.ufba.br e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo - UFBA
Coordenador do Grupo de Pesquisa Cultura e Sexualidade (CuS) - http://www.politicasdocus.com/
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(cusvirtual) Evento: Sustentabilidade na moda



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(cusvirtual) duas atividades hoje



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