Re: A palavra dos mortos

Querido! Que bom ler um email seu, do Roma.

Já tinha lido esse artigo do Jean no 247 e é inefável dizer o quanto
me senti comtemplado. Bacana vc compartilhar.

Td bem aí? Feliz ano com muitas coisas boas.

Beijos e sorrisos,



João Machado

Em 16/01/13, Fabricio Lima<adm.fabriciolima@gmail.com> escreveu:
> ---------- Mensagem encaminhada ----------
> De: Jean Wyllys <contato@jeanwyllys.com.br>
> Data: 11 de janeiro de 2013 16:10
> Assunto: A palavra dos mortos
> Para: adm.fabriciolima@gmail.com
>
>
> Caso não visualize a mensagem, acesse este
> link<http://jeanwyllys1.enviodecampanhas.net/registra_clique.php?id=H%7C488179%7C135413%7C21145&url=http%3A%2F%2Fjeanwyllys1.enviodecampanhas.net%2Fver_mensagem.php%3Fid%3DH%7C3042%7C135413%7C133912374151546000>
> .
>
> [image: header]
>
>
> A palavra dos mortos
>
> *por Jean Wyllys**
>
> *Artigo publicado no site Brasil 24/7 -
> http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/90310/A-palavra-dos-mortos.htm*
>
> *(Este artigo contém uma imagem forte*)
>
>
>
> Diz-se que uma imagem vale mais que mil palavras, mas há palavras que mil
> imagens não traduzem: preconceito é uma delas. Ao contrário: as imagens,
> sejam quantas forem, podem reforçar aquilo a que se refere a palavra
> preconceito. Esta palavra também não pode ser traduzida por números nem
> estatísticas. Estes, porém, sempre atraem ou despertam palavras.
>
> Ontem, por exemplo, no rastro da divulgação, nos principais portais de
> notícias, das estatísticas do Grupo Gay da Bahia acerca dos homicídios
> motivados por homofobia (o conjunto dos atos – inclusive dos atos
> linguísticos - apoiados no preconceito social anti-homossexual, um dos
> muitos preconceitos socialmente partilhados), vieram muitas palavras: a
> palavra dos leitores da notícia expressa em comentários publicados logo
> abaixo da mesma; a palavra dos intelectuais conservadores; as palavras dos
> políticos reacionários à esquerda e, principalmente, à direita; a palavra
> dos fundamentalistas cristãos católicos e evangélicos; e até a palavra de
> um famoso humorista que se diz "politicamente incorreto", mas que, ao fim e
> ao cabo, apenas põe seu "humor" a serviço da correção e da ortopedia moral
> que há séculos constrangem e estigmatizam, com violência verbal e/ou
> física, aqueles "desviantes" da ordem do
> macho-adulto-branco-heterossexual-e-cristão (ou seja, as mulheres, os
> negros, os judeus, os indígenas, o povo-de-santo, os gays, as lésbicas, as
> travestis e transexuais e as pessoas com deficiências; principalmente os
> mais pobres dentre esses).
>
> Pode-se dizer que as palavras deles (dos leitores da notícia, dos
> intelectuais conservadores, dos políticos reacionários, dos
> fundamentalistas cristãos e do humorista) são quase as mesmas - com
> variações que dependem do grau de instrução e da posição social que cada um
> ocupa – e têm o mesmo objetivo: silenciar LGBTs e reprimir sua organização
> política por meio de interpretações deliberadamente equivocadas das
> estatísticas divulgadas e da conseguinte desqualificação das mesmas.
>
> Não repetirei aqui todos "argumentos" dessa gente – até porque seu
> preconceito ou má fé não precisa de mais espaço do que já tem! – mas vou
> destacar um que é recorrente: a estatística de 336 homicídios em 2012
> motivados por homofobia (numa proporção de um homossexual morto a cada 26
> horas) seria irrelevante já que, no mesmo período, a taxa de homicídios em
> geral é de mais 50 mil. Ora, os porta-vozes desse "argumento" se não agem
> de má fé são limitados mesmo. As estatísticas não dizem apenas que 336
> homossexuais morreram ano passado. As estatísticas dizem que 336 homicídios
> motivados por homofobia foram perpetrados em 2012 (o que representa um
> aumento de 26% em relação a 2011). Ou seja, 336 seres humanos foram
> assassinados em decorrência de sua orientação sexual ou identidade de
> gênero; foram mortos apenas porque eram gays, lésbicas, travestis e
> transexuais ou em circunstâncias em que sua orientação sexual e/ou
> identidade de gênero contribuiu/contribuíram decisivamente para o
> homicídio. Esses crimes não podem, portanto, ser dissolvidos nas taxas de
> homicídios em geral cujas motivações não são a orientação sexual nem a
> identidade de gênero.
>
> Não conheço até o momento nenhum caso de homem que tenha sido cruelmente
> assassinado porque era heterossexual, ou seja, apenas pelo fato de que
> gostava de "comer mulher"; tampouco conheço um caso em que um homem tenha
> sido morto a pauladas por estar "vestido como homem". Mas posso citar
> centenas de casos de homens e mulheres que foram mortos apenas pelo fato de
> gostarem de transar com pessoas do mesmo sexo; e posso citar milhares de
> caso de pessoas que foram mortas apenas porque estavam vestidas de acordo
> com sua identidade de gênero. Esses crimes são considerados crimes de ódio
> porque vitima toda a comunidade à que pertence suas vítimas. Aliás, o fato
> de se pertencer a essa comunidade é a razão última do crime. Ora, será
> preciso desenhar para que essa gente entenda o que querem dizer as
> estatísticas?! Se uma imagem vale mais que mil palavras, talvez eu tente me
> aventurar pelo desenho pra ver se consigo sensibilizar esses caras (na
> hipótese de algum deles ser apenas equivocado e não estar agindo de má fé)…
>
> E, por falar em imagem, a que ilustra este texto quer valer mais que as mil
> palavras não ditas pelo morto retratado. Perdoem-me os mais sensíveis, mas,
> numa sociedade devota da imagem como a nossa, "educada" pela televisão e
> pela publicidade, a foto chocante de um homicídio brutal motivado por
> homofobia talvez sensibilize mais as pessoas do que todas as palavras já
> ditas até aqui...
>
> [image: Travesti assassinada em Simões Filho - Bahia - 2010]
>
> *Travesti assassinada em Simões Filho - Bahia - 2010*
>
> Por mais que eu me esforce, não conseguirei expressar as palavras não ditas
> pelos mortos… Aquelas palavras que sucumbem aos números frios das
> estatísticas e à tagarelice dos canalhas insensíveis à desgraça alheia;
> palavras que expressariam o horror diante da crueldade que põe fim às vidas
> e a dor insuportável dos que perderam seus entes queridos para a violência.
>
> Quem sabe se com essa imagem principalmente o humorista "politicamente
> incorreto" e sua claque cruel e sem pensamento mas de riso frouxo não
> percebam que não se pode fazer piada da dor dos outros? Sou um homem
> esperançado! Mas sou também um ativista: não fico apenas à espera de dias
> melhores, atuo para que eles cheguem logo; por isso mesmo, questionei e
> questiono os insensíveis e opressores, mesmo que isso implique em insultos
> impublicáveis e em injunções ao silêncio do tipo "você tem que trabalhar
> para o povo brasileiro e não para a sua classe" – injunções que nada mais
> são do que frutos da ignorância sobre o meu trabalho como parlamentar; da
> preguiça de se informar mais e melhor; da despolitização em geral e da
> falta de raciocínio lógico, uma vez que a minha "classe" pertence ao povo
> brasileiro.
>
> De mais a mais, não vejo ninguém reclamar dos parlamentares ruralistas nem
> dos evangélicos por defenderem apenas seus interesses em casas
> legislativas; logo, ainda que eu atuasse para defender só os interesses de
> LGBTs (o que não é verdade; qualquer pesquisa básica mostrará isso), ainda
> assim eu estaria honrando o mandato que conquistei no jogo democrático. Não
> há insulto ou injunção ao silêncio que me detenha ou que me impeça de
> trazer, à luz, a palavra dos mortos!
>
>
>
> **Jean Wyllys é jornalista, escritor, mestre em Letras e Lingüística pela
> UFBA e deputado federal pelo PSOL do Rio Janeiro*
>
> *Artigo publicado no site Brasil 24/7 -
> http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/90310/A-palavra-dos-mortos.htm*
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> Professor de Administração
> Coordenador do ROMA - Instituto de Diversidade Sexual da Grande
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